sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dois relógios e duas medidas

Voltando um pouco ao tema para o qual o Blog foi inicialmente concebido, o qual inclusive deu ensejo ao endereço (“arbitragemdexadrez”), venho tratar de um tema que pode passar despercebido por muitos árbitros: a discrepância na regra do ritmo de jogo adotado com relógio digital e analógico, para torneios de norma.

Pois bem, quando acessamos o HandBook da FIDE, encontramos:

"The allowed time controls are as follows:
- 90 minutes with 30 seconds cumulative increment for each move starting from first move
- 90 minutes for 40 moves + 30 minutes with 30 seconds cumulative increment for each move starting from the first move
- 100 minutes for 40 moves followed by 50 minutes for 20 moves, then 15 minutes for the remaining moves with 30 seconds cumulative increment for each move starting from first move
- 40 moves in 2 hours followed by 30 minutes for the rest of the game
- 40 moves in 2 hours followed by 60 minutes for the rest of the game
- 40 moves in 2 hours followed by 20 moves in 1 hour followed by 30 minutes for the rest of the game”

Percebe-se que o ritmo de 90 min. + 30 segs. de acréscimo é aceito, sem problemas, para torneios de norma, mas o seu equivalente em analógico (2 horas KO) não é! Uma grande incoerência, correto?

Tal questão já levantou inúmeras polêmicas. Talvez algum árbitro mais atento possa até falar “eu me lembro que 90 min. + 30 segs. acréscimo estava para sair dos torneios de norma, não saiu?”. Pois é, isto realmente chegou a aparecer no HandBook.

O histórico completo da celeuma é:

Congresso da FIDE em 2008 (Dresden): aprovada a exclusão do ritmo de 90 m + 30 s de acresc. dos torneios de norma, a partir de 01/07/2010. A redação que se via no HB, após tal decisão, era: “90 minutes with 30 seconds cumulative increment for each move starting from first move (This time control is valid only until 30.6.2010.)”

Congresso da FIDE em 2009 (Halkidiki): a Comissão de Qualificação rediscute a decisão anterior e, ante a falta de consenso, decide prorrogar o prazo por mais um ano, até que possam tomar alguma decisão no Congresso da FIDE de 2010. Eis o texto da ata da reunião:

4.1.5 Rates of Play
The decision to limit the choice of time controls to six (from 1.7.2010 to five) alternatives has caused a flood of questions, objections and requests to have a possibility to use other controls, too. Many competitions have had a traditional time control that is not included now. The proposal by the QC Chairman to have one more year of transition time was not approved the PB.
The proposal came from ACP to unify the time controls. To have the same time control(s) in the FIDE top events is important.
Chairman Mikko Markkula proposed to reopen the case and to allow more different time controls for title norms. Werner Stubenvoll is in favour of an unified time control and disagreed to the proposal, the other members of QC accepted the proposal.
It is recommended to the EB to open this discussion with ACP to reconsider the choice of time controls available. It is also recommended that until 1.7.2011 the time controls allowed before 30.6.2009 are still valid for titles.” (grifei)

Congresso da FIDE em 2009 (Halkidiki): a Comissão de Qualificação rediscutiu mais uma vez a questão e resolveu prorrogar o prazo para 2013, adiando a discussão para o Congresso da FIDE de 2012, em Istambul: “5. From 1 July 2010 until 30 June 2013 the following time control will continue to be permitted for title norms: all the moves in 90 minutes, plus 30 seconds added cumulatively from move 1.”

Tecnicamente, a exclusão é ruim para organizadores, mas é uma questão de bom senso e coerência, para se evitar discrepâncias na regra de utilização de ritmos com e sem acréscimo. É importante ficar atento ao HB, para se evitar a organização, após o prazo, de torneios de norma sem validade, por conta de um equivocado ritmo de jogo. Estarei de olho e, havendo novidades, voltarei a trazer a questão ao blog.

Bom final de semana a todos!

AI Pablyto Robert
@IA_Pablyto

3 comentários:

  1. Na época do Capablanca (somente relógios analógicos), qual era o controle de tempo mais adotado? 2h - 40 movimentos + 1h para o restante?

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  2. Francisco, é difícil informar, porque naquela época existia a questão do adiamento, etc. Mas, até pouco antes de entrarem os digitais, era muito comum nos torneios mais fortes, o rítmo de 2h para 40 lances, seguido de 1h para 20 lances mais 30 minutos KO (2h/40moves + 1h/20moves + 30mins). A partida poderia alcançar 7 horas. Talvez o pessoal da antiga tenha alguma referência histórica sobre a sua questão.

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  3. No início da década de 70 (quando eu comecei a jogar)ainda se usava , no Brasil, 2h30min/40 lances e 1h para cada 16 lances seguintes. A partida era suspensa depois de 5h. Pouco depois foi alterado para 2h/40 + 1h/20. a partida era suspensa com 5 horas de jogo e podia durar muito tempo. Uma partida minha com o Rômulo Beré em uma final de um Paulista durou 10horas e meia. (5h +5h30min). Nos torneioss a última rodada nào tinha suspensào (era chamada rodada "a finish").

    Em uma das Copas MercoSul em Umuarama, minha partida foi a última a acabar na última rodada e demorou mais de 7 horas (todo mundo querendo ir embora e eu querendo ganhar um final de cavalos com peão a mais). Eu comecei a ficar meio sem-graça por causa do transtorno que estava causando e resolvi aceitar o empate. De repente vem o Milos e mostra uma variante de ganho em que eu entrego o peào a mais...

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