terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Tolerância zero – bom senso idem!

Por ser tão absurda, a proposta de alteração das regras, no que tange ao atraso dos jogadores, após o início da rodada, foi a única norma que ficou pendente de aprovação para a divulgação da nova redação das “Leis do Xadrez”, que vigorará a partir de 01/07/2009. Durante a olimpíada de Dresden, vimos os efeitos nefastos da aplicação da “tolerância zero”. Era só o árbitro chefe falar “start” e quem não estava na mesa perdia imediatamente, mesmo estando dentro do salão de jogos!

Tal radicalismo gerou muita discussão, o que fez com que a FIDE avaliasse duas situações para a rega insculpida no art. 6.7, o que somente será apreciado e finalmente decidido no próximo “Presidential Board”. Vamos às propostas, com os textos no original em inglês:

“Proposed change 1:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game, unless the arbiter decides otherwise. Thus the default time is 0 minutes. The rules of a competition may specify a different default time.

Note 1: If the proposed change is accepted, then the order of Articles 6.6 and 6.7 shall be changed and 6.6 needs to be amended.”


Até aqui para comentarmos a proposta! De plano, a redação acima é daquelas “a gente quer isto, mas se você não quiser, pode fazer diferente...”. Em suma, vai despadronizar tudo, pois cada torneio poderá ter um tempo de tolerância diferente, seja 0, 5, 10, 15, 17 e meio, etc. Até hoje tínhamos a regra de 1 hora do horário previsto para a rodada, a menos que as regras estabelecessem de forma diversa, o que geralmente variava para 1 hora após o efetivo início da rodada.

Uma hora é tempo demais, concordamos, mas zero é ser radical demais! Já pensou isto no futebol? Entra o árbitro no Morumbi, o time do São Paulo está pontualmente em campo, até porque pode concentrar lá mesmo, se quiser. O outro time tem um problema no deslocamento (fura um pneu do ônibus e o trânsito de SP está aquela “maravilha”). Chegam correndo, esbaforidos, fazem um rápido aquecimento no vestiário e sobem as escadas, entrando no campo com 1 minuto de atraso para o horário marcado e dão de cara com o outro time saindo, comemorando os 3 pontos! É surreal, não é?

Além disto, aprovando-se esta norma, tem-se que alterar a estrutura do art. 6º, passando o 6.7 para 6.6 e ajustando o 6.6 (que seria renumerado para 6.7), para prever a questão do tempo proposto no regulamento, já que se perderia um parâmetro hoje conhecido.

A proposta número 2 é a mais devastadora:


“Proposed change 2:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game

Note 2: If this proposed change is accepted, then Article 6.6 must be deleted and the remaining Articles must be renumbered.”

Neste caso não tem choro e nem vela! Não tem regulamento que especifique de outra forma. O árbitro deu início, o jogador está em pé no corredor, perdeu! A regra é drástica e não comporta exceções, nem as ocasionadas por força maior.

Em nossa opinião e de tantos outros árbitros e jogadores, esta regra, se assim for aprovada, existirá com o único propósito de ser descumprida! É igual determinadas leis, que não pegam de forma alguma. Existir, existe, está no papel, mas o costume da sociedade ignora solenemente a existência das mesmas. Dentre os males, melhor que seja aprovada a primeira opção, pois com ela os organizadores podem estipular um tempo razoável para suprir possíveis imprevistos. E, caso assim não façam, a mesma permite que o árbitro assim decida.
A título de humor, imagina se os jogadores aplicarem um “tolerância zero” nos árbitros que gostam de se atrasar com freqüência, hein...

15 comentários:

  1. OAI Friedrich Salamon, comentou este item da seguinte forma:
    "Não e possível cumprir, se os competidores não estão hospedados no lugar da competição. O assunto tem que ser regulamentado nas regras da competição. É possível reduzir o tempo de tolerância, já que com partidas de 60 minutos não há espaço para uma hora de espera. "

    O que ele fala na primeira frase parece lógico e fundamental, pois se os jogadores não estão hospedados no local da competição, vai chover wo, ano passado joguei um torneio na Argentina e lá todos chegavam +- 5 minutos antes do horário da rodada e ai tinha filmagem e um tipo de "show" onde algum político sentava com um GM fazia alguns lances e empatava.
    Depois disso que geralmente atrasava o inicio das rodadas começava a rodada.
    Não tinha no regulamento nenhuma punição para o atraso mais todos chegavam antes, pois até era divertido ver o "show".
    Acho que deixar a tolerância zero, seria um desastre para os torneios no Brasil, principalmente no estado do Rio de Janeiro, onde os jogadores estão acostumamos a chegar atrasados, principalmente para a primeira rodada, alem de que tiraria o poder do arbitro de tomar uma decisão, por exemplo se o enxadrista chega-se atrasado por algum motivo de força maior, como por exemplo ficar preso num elevador que subia para o salão de jogo( isso já aconteceu no Rio).
    Por bom senso deveria ser aprovada a proposta um que poderíamos deixar como esta 60 minutos ou diminuir para 30 , no JTC a regra é assim, feita pelo Waldemar Costa, vc chega atrasado e não perde desde que ainda tenha tempo para jogar, os torneios do clube são normalmente de 2 horas Ko, e tem jogadores que chegam constantemente atrasados , até mesmo mais de uma hora, em razão do transito ou problemas no trabalho, e jogam, eu mesmo já cheguei , por causa de uma audiência muito atrasado e fui jogar a partida com apenas 10 minutos e por sorte ganhei e o meu adversário era o Petrenko que é um forte jogador, caso não houvesse a regra de tolerância total no JTC, muitos jogadores não poderiam participar dos torneios, por isso não me parece absurdo deixar o tempo de tolerância, por conta de cada tipo de torneio.

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  2. Boa noite.
    Antes de mais quero-lhe dar os parabéns pelo blog, e desejar ao mesmo o maior sucesso.
    Estou a começar a minha carreira na arbitragem de xadrez, e tenho uma duvida que gostaria de lhe colocar.
    O artº 11 das regras da FIDE, diz:
    "11.1 A menos que previamente anunciado de outra forma, o jogador que vence a partida, ou vence por falta do adversário (FC), recebe um ponto (1), o jogador que perde a partida, ou falte (FC), recebe zero pontos (0) e o jogador que empate a partida recebe meio ponto (½)."

    A minha duvida:
    Se o a pontuação "préviamente anunciada" do torneio for diferente de 1, 0.5 e 0. Ao enviar o torneio à FIDE, qual a pontuação que a mesma aceita?
    Começo a ver muitos torneio em que a pontuação para o vencedor é de 3 pontos, e o empate 2 ou 1. Com este sistema de pontuação, um jogador pode ganhar 4 jogos em 7, empatar 1 (1 ponto) e fazer 13 pontos ganhando o torneio, outro ganha 3 e empata 3 (13 pontos) fica em segundo. Com a pontuação da FIDE (1, 0.5 e 0), quem é o vencedor do torneio?

    Cumprimentos
    Joaquim Machado

    www.xadrezamigos.blogspot.com

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  3. A sua experiência in loco é bastante importante, pois dá-nos uma perspectiva de quem atuando na arbitragem das Olimpíadas pode ver os acontecimentos e as dúvidas que surgiram.

    Todavia, a coluna do Leontxo García em Chessbase, ao comentar esse mesmíssimo assunto, começou devastadora contra, e, paulatinamente foi se alterando, de condescendente (se tomar a decisão vamos cumprir) até chegar a entusiasta.

    Note que ele dá uma visão daquele que no papel de jornalista cobre o evento, e, por tabela, daquele que patrocina o evento.

    Quando todos os jogadores começaram a se acostumar com a regra, relata o jornalista, 30 minutos antes o salão estava praticamente vazio; com 15 minutos para o início, 60% já estava presente, e, com 5 minutos, até as mega-estrelas já estavam perfiladas.

    Com isso, o trabalho da imprensa ficou deveras facilitado, pois todos os jogadores estavam a mão para de viva-voz e sem afogadilho após uma derrota comentar o evento.

    Penso, sinceramente, aproveitando-me ainda da experiência do mundo jurídico, que deveria haver uma vacatio legis neste assunto, com aplicação imediata, a título de exemplo, nos grandes torneios chancelados pela FIDE.

    Enfim, para os supertorneios aplicação imediata, e, para os demais mortais, daqui a até 1 ano, por exemplo.

    Essa previsibilidade dada por esta regra, para quem organiza evento de xadrez, é excepcional, pois a estrutura do torneio não deve ficar à disposição dos recalcitrantes. Atraso não deve ser tolerado nem para o árbitro, pois, normalmente, as condições em que se faz um torneio de xadrez são severamente limitadas (horário de fechamento do prédio onde está sendo realizado os jogos, etc).

    Blanco

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  4. Parabéns pelo blog presidente!! Ótima iniciativa.

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  5. Blanco,

    A "vacatio legis" existe, uma vez que só entrará em vigor a nova "lei" em 01/07 do corrente ano. Sem dúvida há os prós e contras. Só que, olhando com a visão de árbitro, organizador e jogador, só consigo enxergar os contras, pois imprevistos acontecem na vida de qualquer um e a probabilidade de ocorrerem em torneios abertos é sempre grande.

    Concordo que em Top eventos (fechados) é cabível essa regra. Já numa olimpíada, só para satisfazer a imprensa, é ruim, pois é muita gente de vários países e a chance de alguém ter um problema e se atrasar 5 segundos é imensa... A regra é estupidamente inflexível, na proposta 2. A proposta 1 é a melhor, na medida em que dá uma margem à organização do evento. É como penso no momento, respeitando as opiniões diversas, afinal não há verdade absoluta nesse caso.

    PS: sobre a situação trazida pelo Joaquim Machado, acho pertinente abrir um tópico novo para comentar a dúvida, já que este post é mais para a questão do tempo de atraso.

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  6. Texto em inglês e tradução do AI Antônio Bento das Novas leis de Xadrez da FIDE, já disponível na pagina da BCX Brasília Clube de xadrez.
    http://www.bcx.com.br/leisfidedresden2008.htm

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  7. Primeiramente, gostaria de dar-lhe os parabéns pelo seu espaço destinado a discutir questões referente à arbitragem. Acho que todos nós, árbitros e atletas, devemos estar atentos a este assunto.
    Acho que a regra a ser implantada de "tolerância zero" é inaceitável. Em vários torneios haverá muitos WO, prejudicando a questão técnica do torneio ou campeonato. Deveria ter um tempo de espera (não como o AN Eduardo Arruda sugeriu se "copiar" a regra do JTC, onde, em um torneio de duas horas, o atleta pode comparecer e jogar, teoricamente, mesmo com uma hora e cinquenta nove minutos de atraso! Claro que esta regra pode ser aplicada em torneios internos de clubes, mas em competições de Federações, das Confederações e da FIDE seria um despropósito. O correto seria, talvez, estipular um tempo máximo de espera, talvez trinta minutos ou 1/4 do tempo total (por exemplo, um torneio de 120 minutos teríamos 1/4 de tempo de espera, ou seja, 30 minutos. Em outro de 61 minutos, teríamos 15 minutos. Mas, creio eu, estas propostas devem ser discutidas em cenário bastante amplo. Espero que a FIDE tenha a sensibilidade e sabedoria de tomar a decisão mais apropriada a respeito deste intrincado assunto.

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  8. Caro Pablyto,

    antes de comentar o tema deste post desejo, assim como todos que militam e amam o nosso esporte, todo o sucesso a frente da CBX e, aproveitando, parabenizá-lo pela criação deste espaço, oportuno e necessário para os árbitros e jogadores.

    A Tolerância Zero das novas leis da FIDE está levantando muita polêmica. Eu mesmo, no blog XADREZ CARIOCA, com humor, fiz comentários a respeito dos possíveis WOs que alguns organizadores vão levar. A minha experiência como árbitro, organizador e jogador me leva concordar com os comentários do meu amigo Marco Coutinho. Estipular um tempo máximo de espera, que obviamente não deve ser a atual e exorbitante uma hora, seria o indicado. Agrada-me a proposta do Marco sobre a porcentagem, cabendo a FIDE determinar os números.
    Atrasar o início de uma partida, em qualquer prática esportiva, é desrespeitar o adversário, a organização e o próprio esporte. O xadrez suportou durante muitos anos esse vício deprimente, em geral em decorrência da pouca importância que os praticantes davam e dão a ele. A FIDE está correta ao tentar melhorar a relação de respeito entre o esporte e quem o pratica.

    Abraços,

    AMORIM

    PS: Este blog entrará na lista de links do XADREZ CARIOCA.

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  9. Ja que vc citou o texto em ingles,eu complemento.Os 2 arbitros AN Arruda e AAe Marco alem do Blanco que ja assistiu a nossos cursos de árbitros, se lembram que frisamos o prefacio:
    Preface
    The Laws of Chess cannot cover all possible situations that may arise during a game, nor can they regulate all administrative questions. Where cases are not precisely regulated by an Article of the Laws, it should be possible to reach a correct decision by studying analogous situations, which are discussed in the Laws. The Laws assume that arbiters have the necessary competence, sound judgement and absolute objectivity. Too detailed a rule might deprive the arbiter of his freedom of judgement and thus prevent him from finding the solution to a problem dictated by fairness, logic and special factors. FIDE appeals to all chess players and federations to accept this view.
    A member federation is free to introduce more detailed rules provided they:
    a)do not conflict in any way with the official FIDE Laws of Chess;
    b)are limited to the territory of the federation concerned; and
    c)are not valid for any FIDE match, championship or qualifying event, or for a FIDE title or rating tournament
    Lembremos que a FIDE faz suas regras para ios torneios de elite, onde ha outros fatores. Ate o emparceiramento é distinto.E ela cita o bom senso. Estamos num pais tropical,estes dias fazendo um calor de rachar. Daqui a pouco serao proibidos alimentos leves, e da mesma fornma que o café é estimulante, temos o guarana ou o calmante suco de maracuja...
    No Brasil,alem do FENAX (nao realizado ha alguns anos), salvo engano so RJ e SP tem eventos oficiais por equipes (alem de JAIS,JASCs etc). Como diz o Salamon, aqui a exemplo do celular é incluir uma observacao. Mudaria a filosofia,pq nao adiantria uma equipe preencher um nome com ele ausente,na esperanca que chegue. Concordo com o Marco qdo ele nao gosta da regra do JTC. Com o Arruda qdo ele cita o caso das escadas.

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  10. Primeiramente eu não acho que a regra do JTC deva ser implantada, apenas a coloquei como exemplo, defendo a regra 1 pois cada torneio tem peculiaridades distintas.
    Vou da um exemplo, um torneio de norma de MI , com 10 jogadores, e todos os candidatos para conseguir a norma terão que jogar todas as partidas e fazer a pontuação especifica.
    Vamos supor que a regra de tolerância zero esta em vigor, tem um jogador candidato que faz 7 em 7 já com a norma garantida, podendo perder as duas partidas, na oitava rodada ele enfrentaria o mestre Erminegildo da Coves, faltando um minuto para começar a rodada nada do mestre, na hora de começar a rodada o arbitro fala: _ as negras podem acionar o relógio e o cara que “tinha” norma feita ganha por wo e perde a norma, e com um minuto de atraso entra o mestre que tinha se atrasado pois na entrada do clube , tinha levado um tombo.

    E o prejuízo para a organização seria muito grande sem falar o prejuízo do cara que tinha 7 em 7.

    E eu conheço árbitros que realmente começariam a rodada na hora e fariam cumprir as regras a todo custo.

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  11. caro amigo: parabens pela iniciativa deste blogue em tornar publico o tema de arbitragem, esperamos nos espelhar em temas abordado neste blogue, baseando nos conhecimentos e opiniões de companheiros mais experientes em arbitragem, incluindo você em quem sempre me espelhei no campa da arbitragem. sinceramento: Arlindo F.C

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  12. o Match Kamsky X Topalov será realizado de 16 a 28 de fevereiro, hoje foi a conferencia de imprensa e informaram que o tempo de espera será zero minutos, usarão a tolerância zero.
    E ainda por segurança os jogadores deverão chegar 10 minutos antes.
    Mais nesse tipo de evento eu concordo que a tolerância zero deve ser usada.

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  13. Parabéns pela iniciativa deste blogue em tornar publico o tema de arbitragem.

    Fala serio!!!

    Tolerancia Zero é ridiculo.

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  14. Boa noite.
    Não me parece que o tema "tolerancia zero", seja ridiculo, ou mesmo descabido. Aquilo que me custa ver e aceitar é a falta de respeito que muitos jogadores têm para com seus adversários, chegando bastante depois do inicio do jogo, obrigando seu adversário a estar ali, parado há espera. Este tipo de situação ocorre com frequencia na 1ª e 2ª ronda de um torneio, altura em que o emparceiramento favorece os jogadores mais fortes. Quando o nivel do adversário começa a se igualar, o jogador chega bem a tempo.Em qualquer desporto, os jogadores chegam muito antes da hora de inicio de jogo, para se prepararem para o mesmo. Nunca vi no futebol, um jogador chegar atrasado e entrar a meio do jogo.
    Porque há-de ser diferente no xadrez?
    O jogo começa às 15.00 ou 21.00, é obrigação do jogador chegar mais cedo.
    Em competição de equipas, a equipa vem sempre junta, e chega sempre a horas.
    Talvez esta proposta da FIDE, venha a contribuir para uma "profissionalização/responsabilidade", que hoje não se vê.

    Cumprimentos
    Joaquim Machado

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  15. Concordo plenamente com o amigo Joaquim Machado. Imaginem em outros esportes o atraso. Por exemplo; na F-1, o Massa chega atrasado e larga na 4ª volta...Isto é surreal! Nos 100m rasos, o atleta chega com 1 min de atraso...Já acabou a corrida! Se queremos levar o xadrez a sério, com possibilidades reais de ser um esporte olímpico, vamos adotar as medidas que devem ser tomadas. Não entendo o porquê de tanta discussão sobre o tema, com tantas discordâncias (até de árbitros experientes). Eu quero ver em um campeonato estadual, por exemplo, um atleta chegar atrasado contra um adversário mais forte ou de igual nível que ele.
    Marco Coutinho

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