quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CARTA ABERTA AOS ENXADRISTAS

Vitória/ES, 28 de Novembro de 2012.

Já no fim de 2007, início de 2008, o então Presidente da CBX, Dr. Sérgio Freitas, emitiu comunicado informando à comunidade enxadrística que não pretendia mais continuar após o fim do seu mandato, informando que não concorreria à reeleição, em virtude de suas atribuições profissionais e familiares. Naquele momento muitos, que entendiam de gestão esportiva, ficaram aflitos, pois estávamos perdendo um grande gestor e amigo do Xadrez.

Naquele momento decidi que poderia tentar aplicar na CBX um pouco do que aprendi gerindo a Federação de meu Estado, por 6 anos, sem somar o período em que integrei a diretoria, como diretor técnico, por 2 anos. Candidatei-me, enfrentando a barreira de ser um ilustre desconhecido da maioria dos enxadristas brasileiros, muito embora fosse conhecido por quase todos os Presidentes de Federação do País e pelos principais atletas, assíduos frequentadores dos excelentes torneios realizados em território capixaba.

Tive o apoio imprescindível de 03 grandes amigos na empreitada eleitoral: GM Darcy Lima, MF Marco Asfora e AI Mauro Amaral. Sem eles, mesmo conhecendo quase todos os colegas presidentes, dificilmente eu teria obtido êxito na eleição. Agradeço aos 3 amigos por empenharem a credibilidade pessoal e confiança em minha pessoa. Agradeço, ainda, aos que efetivamente votaram, dando uma chance para que eu pudesse mostrar que tinha competência para não deixar a CBX cair de rendimento, com a saída de tão grande gestor.

Quem me conhece verdadeiramente, sem prejulgamentos, sem suposições pessoais ou influências de terceiros que não me conhecem, sabe que o sentimento que eu carrego em relação ao Xadrez é do mais sincero e profundo amor. Sou afortunado nesse quesito: amo minha esposa, meu filho, meus familiares, meus amigos, minha profissão e, também, o Xadrez.

Foi com este amor que me empenhei e me dediquei ao máximo à CBX, ao longo desses 4 anos. Combati com vigor as dificuldades que surgiram, bem como as que já se encontravam como obstáculo antes mesmo da eleição. Apenas para citar, encontrei a CBX com 4 ações judiciais em curso e, nem bem assumi o cargo, recebemos mais uma, na qual atuei desde o início como advogado, sem qualquer custo para a entidade.

Recentemente, tivemos mais uma ação, na qual atuamos novamente sem custos para a CBX. Até aqui, só obtivemos resultados positivos. O problema nunca é vencer ou perder uma ação judicial, o problema de fato é o que elas representam para nosso esporte: um retrocesso, estagnação e perda de tempo útil que poderia ser empregado para melhorias efetivas para o Xadrez. Enfim, mesmo com todas essas barreiras, não deixamos de nos empenhar, o que poderia ser seguido pelos demais que se empenharam na esfera judicial para atrapalhar nosso trabalho.

Muitos números poderiam ser usados aqui para ilustrar nosso trabalho, mas o que mais importa são os que demonstram o crescimento no número de eventos, nos últimos 8 anos:

Ano      Eventos
2005       88
2006     133
2007     169
2008     185
2009     243
2010     218
2011     257
2012*   399
*até a manhã de 28 de Novembro/2012
Poderia escrever muitas páginas sobre as conquistas nestes 4 anos, mas isto só tornaria mais difícil a necessária conclusão desta carta aberta.

Muitas vezes em nossas vidas, por nossas atividades e escolhas na vida pessoal, temos que nos afastar de amigos e não deixamos de nutrir o mesmo sentimento de sempre por eles. Saímos da casa de nossos pais, tomamos rumos que nos distanciam de nossos familiares, mas o nosso amor por eles não se altera.

Enfim, apesar de todo o amor que tenho pelo Xadrez, cheguei em uma fase da minha vida profissional que torna incompatível a minha permanência em um cargo de gestão da importância que é a Presidência da CBX. No início deste ano fui promovido e iniciei, em Junho, a pedido da empresa, uma nova Pós-Gradução, já com vistas a um Mestrado daqui 2 anos.

As novas responsabilidades já a partir do próximo ano, com o avançar do curso, tomarão um tempo que antes eu utilizava para me dedicar à CBX. Todos os dias tenho que conferir os arquivos bancários, ler mais de 50 e-mails (respondendo a maioria deles), além de outras atividades importantes que requerem tempo.

Pelo amor que eu tenho ao Xadrez, não posso simplesmente assumir uma responsabilidade para a qual não terei o tempo necessário. Cheguei em uma fase da minha carreira em que terei que abdicar da reeleição. Não estou dizendo adeus para sempre à CBX, estou apenas interrompendo 12 anos contínuos de participação em gestão esportiva. Enquanto pude, dei minha contribuição nos cargos que me foram confiados. Agora o lado profissional requer de mim este sacrifício temporário e a minha profissão é mais importante nesta balança, já que representa o sustento de minha família, uma vez que toda a minha participação em gestão no Xadrez foi gratuita.

Espero que essa estrada faça uma curva mais lá na frente, onde eu possa conciliar novamente o caminho profissional com o caminho da CBX, voltando a trilhar a ambos numa só estrada com direção ao sucesso.

Quero aproveitar o ensejo para agradecer muito a todos que me apoiaram, a todos os que se tornaram verdadeiros amigos e que entenderão que esta decisão se faz necessária nesta fase da minha vida. Agradeço em especial aos que trabalharam junto comigo nesses 4 anos de CBX, sem os quais não haveria sucesso algum a ser apresentado: AI Antônio Bento, Prof. Charles Moura Netto, GM Darcy Lima, MF Marco Asfora, AN Júlio Lapertosa, MF Maximo Macedo, AI Mauro Amaral e AI Igor Lutz.

Muitas são as pessoas que gostaria de penhoradamente agradecer pelo convívio, pela troca de experiência, pelas sugestões que me ajudaram a tomar decisões melhores. Foram muitas as pessoas. Assim, gostaria que recebessem os meus sinceros agradecimentos, nas pessoas do MF Álvaro Aranha e do AN Cassius Alexandre, elegendo assim um nome da categoria dos jogadores e um dos árbitros para expressar a minha gratidão, especialmente pelo vínculo de amizade firmado com os mesmos, que vale muito mais do que qualquer número que poderia ser apresentado nesta carta.

Apoiarei o nome que a Diretoria da CBX decidir apontar para continuar com o nosso trabalho, pois todos os integrantes desta equipe estão aptos à empreitada, especialmente por já estarem habituados com o sistema de gestão implantado.

Muito obrigado a todos, boa sorte e até breve!

AI Pablyto Robert

sexta-feira, 2 de março de 2012

Torneio deplorável

Recentemente, mais precisamente ontem, recebí por e-mail uma foto de um torneio chamado de "Final do Estadual", onde a cena é a mais absurda possível. Seja como árbitro ou como organizador de mais de 300 torneios, nunca vi algo tão assustador na minha vida. Já organizei com amigos, de forma bastante informal, torneios de confraternização, quando era Presidente da Federação do Estado do Espírito Santo. Mesmo sendo em meio a festividades, com churrasco, nossos torneios informais zelavam pelo mínimo respeito às regras do xadrez e à etiqueta. Jogadores não jogavam sem camisa, as mesas eram adequadas, o ambiente era bem ventilado, as cadeiras confortáveis, em suma, nada comparado ao cenário de horror da imagem que recebí e que deve estar rodando por blogs enxadrísticos do Brasil.

Como nosso blog tem por objetivo trazer assuntos do esporte, seja na ótica das regras, seja de forma geral, gostaria de pontuar algumas coisas básicas:

1) As Leis do Xadrez, no item 13.2, versa claramente que "O árbitro deverá atuar no melhor interesse da competição. Deverá assegurar a existência de um bom ambiente de jogo, de modo que os jogadores não sejam perturbados. Deverá também supervisionar o bom andamento da competição". Bom, deve ser consenso, entre os de bom senso, que um ambiente que parece ser um boteco, com mesas de cimento, não é um bom ambiente de jogo, nem muito menos preserva os jogadores de perturbações, especialmente as climáticas.

2) Há também o 12.1, que fala que "Os jogadores não poderão praticar nenhuma ação que cause má reputação ao jogo de xadrez". Jogar sem camisa, certamente não parece ser uma conduta que cause uma boa reputação. Neste caso o jogador está isento, porque ele só precisou tirar a camisa porque a organização não lhe propiciou condições de prosseguir sua partida vestido, o ambiente não era climatizado, o que nos leva ao item anterior.

Poderia ser mais rigoroso e colocar os termos do regulamento de torneio da FIDE (C.06), onde fala sobre vestimenta, sobre as obrigações dos organizadores e atribuições do árbitro chefe. Mas não é isto que está em questão. O que está em questão é a condição desumana da competição em questão. A falta mínima de dignidade conferida aos participantes, estes que deveriam se impor e se recusar participar de um torneio que nem condições de ser uma "pelada" informal tinha. Quanto mais valer um suposto título "estadual".

Pelo que pude notar, tal evento não foi registrado na CBX e nem na FIDE e nem seria aceito nas condições em que foi realizado. Como jogador, eu me recusaria a jogar. Como árbitro, eu me recusaria a arbitrar. Como organizador, eu jamais desrespeitaria os jogadores, o árbitro e o esporte com condições tão degradantes! Aquilo ali não serviria nem para rinha de briga de galo!

Só não posto a foto, porque a cena não é digna deste blog!

Abraço!

AI Pablyto Robert