No post anterior, a respeito da polêmica sugestão de alteração da regra do atraso do jogador para a partida, surgiu o seguinte comentário do nosso estimado Joaquim Machado:
"Joaquim Machado disse...
Boa noite. Antes de mais quero-lhe dar os parabéns pelo blog, e desejar ao mesmo o maior sucesso.Estou a começar a minha carreira na arbitragem de xadrez, e tenho uma duvida que gostaria de lhe colocar. O artº 11 das regras da FIDE, diz:"11.1 A menos que previamente anunciado de outra forma, o jogador que vence a partida, ou vence por falta do adversário (FC), recebe um ponto (1), o jogador que perde a partida, ou falte (FC), recebe zero pontos (0) e o jogador que empate a partida recebe meio ponto (½)." A minha duvida: Se o a pontuação "préviamente anunciada" do torneio for diferente de 1, 0.5 e 0. Ao enviar o torneio à FIDE, qual a pontuação que a mesma aceita? Começo a ver muitos torneios em que a pontuação para o vencedor é de 3 pontos, e o empate 2 ou 1. Com este sistema de pontuação, um jogador pode ganhar 4 jogos em 7, empatar 1 (1 ponto) e fazer 13 pontos ganhando o torneio, outro ganha 3 e empata 4 (13 pontos) fica em segundo. Com a pontuação da FIDE (1, 0.5 e 0), quem é o vencedor do torneio?
Cumprimentos
Joaquim Machado"
Bom, achei interessante criar este post específico para sanar a dúvida do colega e o faço dividindo a resposta em duas partes. A primeira toca no envio do torneio à FIDE. Bem, se o evento funcionar com qualquer pontuação diferente do "default" 1, 0,5 e 0, na hora de enviar o relatório para fins de rating, deverá ser aplicada a pontuação habitual, pois o relatório Krausen não comporta outro sistema de pontuação e o cálculo de rating é baseado apenas na formatação 1, 0,5 e 0. Mas é válido realizar o evento com sistema diferente de pontuação, apenas para fins de premiação final, conforme facilmente observado no art. 11:
"A menos que anunciada, previamente, de outra forma, o jogador que vence sua partida, ou vence por ausência do adversário (WO), recebe o escore de um ponto (1), o jogador que perde sua partida, ou perde por ausência do adversário (WO), recebe o escore de (0) ponto e o jogador que empata sua partida recebe o escore de meio ponto (½)."
Às vezes as pessoas confundem a questão da pontuação com a norma insculpida no prefácio, que diz que as federações podem adotar regras mais detalhadas, desde que não conflitem com as leis e o evento não valha para rating ou título FIDE. O sistema de pontuação não é imutável, mas o relatório final sempre obedecerá o padrão prédefinido e já mencionado.
No que tange ao resultado final do torneio, no que diz respeito ao empate na pontuação final, quem define o vencedor é o regulamento, que fixa os critérios de desempate. Assim, num sistema 3, 1 e 0, onde com 4 vitórias e 1 empate (mais duas derrotas) o jogador atinge 13 pontos, a sua colocação em relação ao oponente que anotou 3 vitória e 4 empates, com os mesmos 13 pontos, é definida pelos desempates adotados no regulamento do evento. Já no sistema 1, 0,5 e 0, bem, o campeão é o segundo jogador, pois somará 5 pontos, contra 4,5 do outro. Basta fazer a conta aritmética.
Peço desculpas pela imensa demora entre um post e outro, mas este mês estou sozinho no meu trabalho e a carga está pesada. O tempo que me sobra tem sido para administrar a CBX, que neste início tem dado muito trabalho, face às propostas para os eventos do calendário e os ajustes no sistema de boletos que tivemos que fazer, bem como os vários pedidos de declaração para nossos atletas pleitearem o bolsa atleta do Governo Federal, cujo prazo iniciou-se recentemente.
Abraço!
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Tolerância zero – bom senso idem!
Por ser tão absurda, a proposta de alteração das regras, no que tange ao atraso dos jogadores, após o início da rodada, foi a única norma que ficou pendente de aprovação para a divulgação da nova redação das “Leis do Xadrez”, que vigorará a partir de 01/07/2009. Durante a olimpíada de Dresden, vimos os efeitos nefastos da aplicação da “tolerância zero”. Era só o árbitro chefe falar “start” e quem não estava na mesa perdia imediatamente, mesmo estando dentro do salão de jogos!
Tal radicalismo gerou muita discussão, o que fez com que a FIDE avaliasse duas situações para a rega insculpida no art. 6.7, o que somente será apreciado e finalmente decidido no próximo “Presidential Board”. Vamos às propostas, com os textos no original em inglês:
“Proposed change 1:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game, unless the arbiter decides otherwise. Thus the default time is 0 minutes. The rules of a competition may specify a different default time.
Note 1: If the proposed change is accepted, then the order of Articles 6.6 and 6.7 shall be changed and 6.6 needs to be amended.”
Até aqui para comentarmos a proposta! De plano, a redação acima é daquelas “a gente quer isto, mas se você não quiser, pode fazer diferente...”. Em suma, vai despadronizar tudo, pois cada torneio poderá ter um tempo de tolerância diferente, seja 0, 5, 10, 15, 17 e meio, etc. Até hoje tínhamos a regra de 1 hora do horário previsto para a rodada, a menos que as regras estabelecessem de forma diversa, o que geralmente variava para 1 hora após o efetivo início da rodada.
Uma hora é tempo demais, concordamos, mas zero é ser radical demais! Já pensou isto no futebol? Entra o árbitro no Morumbi, o time do São Paulo está pontualmente em campo, até porque pode concentrar lá mesmo, se quiser. O outro time tem um problema no deslocamento (fura um pneu do ônibus e o trânsito de SP está aquela “maravilha”). Chegam correndo, esbaforidos, fazem um rápido aquecimento no vestiário e sobem as escadas, entrando no campo com 1 minuto de atraso para o horário marcado e dão de cara com o outro time saindo, comemorando os 3 pontos! É surreal, não é?
Além disto, aprovando-se esta norma, tem-se que alterar a estrutura do art. 6º, passando o 6.7 para 6.6 e ajustando o 6.6 (que seria renumerado para 6.7), para prever a questão do tempo proposto no regulamento, já que se perderia um parâmetro hoje conhecido.
A proposta número 2 é a mais devastadora:
“Proposed change 2:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game
Note 2: If this proposed change is accepted, then Article 6.6 must be deleted and the remaining Articles must be renumbered.”
Neste caso não tem choro e nem vela! Não tem regulamento que especifique de outra forma. O árbitro deu início, o jogador está em pé no corredor, perdeu! A regra é drástica e não comporta exceções, nem as ocasionadas por força maior.
Em nossa opinião e de tantos outros árbitros e jogadores, esta regra, se assim for aprovada, existirá com o único propósito de ser descumprida! É igual determinadas leis, que não pegam de forma alguma. Existir, existe, está no papel, mas o costume da sociedade ignora solenemente a existência das mesmas. Dentre os males, melhor que seja aprovada a primeira opção, pois com ela os organizadores podem estipular um tempo razoável para suprir possíveis imprevistos. E, caso assim não façam, a mesma permite que o árbitro assim decida.
A título de humor, imagina se os jogadores aplicarem um “tolerância zero” nos árbitros que gostam de se atrasar com freqüência, hein...
Tal radicalismo gerou muita discussão, o que fez com que a FIDE avaliasse duas situações para a rega insculpida no art. 6.7, o que somente será apreciado e finalmente decidido no próximo “Presidential Board”. Vamos às propostas, com os textos no original em inglês:
“Proposed change 1:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game, unless the arbiter decides otherwise. Thus the default time is 0 minutes. The rules of a competition may specify a different default time.
Note 1: If the proposed change is accepted, then the order of Articles 6.6 and 6.7 shall be changed and 6.6 needs to be amended.”
Até aqui para comentarmos a proposta! De plano, a redação acima é daquelas “a gente quer isto, mas se você não quiser, pode fazer diferente...”. Em suma, vai despadronizar tudo, pois cada torneio poderá ter um tempo de tolerância diferente, seja 0, 5, 10, 15, 17 e meio, etc. Até hoje tínhamos a regra de 1 hora do horário previsto para a rodada, a menos que as regras estabelecessem de forma diversa, o que geralmente variava para 1 hora após o efetivo início da rodada.
Uma hora é tempo demais, concordamos, mas zero é ser radical demais! Já pensou isto no futebol? Entra o árbitro no Morumbi, o time do São Paulo está pontualmente em campo, até porque pode concentrar lá mesmo, se quiser. O outro time tem um problema no deslocamento (fura um pneu do ônibus e o trânsito de SP está aquela “maravilha”). Chegam correndo, esbaforidos, fazem um rápido aquecimento no vestiário e sobem as escadas, entrando no campo com 1 minuto de atraso para o horário marcado e dão de cara com o outro time saindo, comemorando os 3 pontos! É surreal, não é?
Além disto, aprovando-se esta norma, tem-se que alterar a estrutura do art. 6º, passando o 6.7 para 6.6 e ajustando o 6.6 (que seria renumerado para 6.7), para prever a questão do tempo proposto no regulamento, já que se perderia um parâmetro hoje conhecido.
A proposta número 2 é a mais devastadora:
“Proposed change 2:
6.7 Any player who arrives at the chessboard after the start of the session shall lose the game
Note 2: If this proposed change is accepted, then Article 6.6 must be deleted and the remaining Articles must be renumbered.”
Neste caso não tem choro e nem vela! Não tem regulamento que especifique de outra forma. O árbitro deu início, o jogador está em pé no corredor, perdeu! A regra é drástica e não comporta exceções, nem as ocasionadas por força maior.
Em nossa opinião e de tantos outros árbitros e jogadores, esta regra, se assim for aprovada, existirá com o único propósito de ser descumprida! É igual determinadas leis, que não pegam de forma alguma. Existir, existe, está no papel, mas o costume da sociedade ignora solenemente a existência das mesmas. Dentre os males, melhor que seja aprovada a primeira opção, pois com ela os organizadores podem estipular um tempo razoável para suprir possíveis imprevistos. E, caso assim não façam, a mesma permite que o árbitro assim decida.
A título de humor, imagina se os jogadores aplicarem um “tolerância zero” nos árbitros que gostam de se atrasar com freqüência, hein...
Assinar:
Postagens (Atom)